quinta-feira, 23 de outubro de 2008

em direção à meca




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há várias maneiras de chegar ao irã. eu segui a mais difícil. rio-londres, 13 horas. e outras 10 horas no aeroporto de heathrow. de lá, mais 6 horas entre londres-teerã, onde cheguei às 3 horas da manhã. sem as malas! haviam me falado que ao entrar no espaço aéreo iraniano, a aeromoça avisaria que as moças deveriam se vestir conforme as leis muçulmanas. na telinha da minha poltrona, o mapa indicava que eu já estava há um tempão sobrevoando o espaço aéreo iraniano e nada de aviso para eu me enquadrar. olhava pra baixo, mó cara de deserto...mas a mulherada a bordo não estava nem aí, todas com cabelos soltos e as que usavam véu não portavam mais que um lencinho. faltando poucos minutos para aterrisar, corri para o banheiro para me trocar, pois imaginei que a fila para acertar o véu seria grande. conforme fora aconselhada no brasil: nem um fio de cabelo fora do pano. pescoço totalmente coberto. o casaco sobre-tudo abaixo dos joelhos. pés tapados. de preferência, use o pretinho básico. pois então lá estava eu feito uma múmia. e só eu. o avião aterissa em solo iraniano, para a minha felicidade (há anos queria conhecer o irã). e para minha perplexidade, passavam por mim mulheres de sandalinha, roupas coloridas e véus displicentes. alguém entendeu tudo errado no irã. nos próximos posts vocês vão ver que a história é bem diferente. portanto, se você for ao irã, aviso amigo: roupas de manga comprida, sim; batas longas, ok; lencinho na cabeça, sempre; mas nada de exageros. roupas frescas, panos leves. claros, pois o calor no verão e na primavera é grande. e também porque você irá se sentir melhor naquele mar de vestes negras.
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mas voltando à minha telinha. durante o percurso entre londres e teerã notei uma setinha apontando para uma casinha no alto da tela. durante cinco horas fiquei encafifada com aquilo. nunca havia visto tal coisa em mapa de rota de aeronaves. foi só na última hora, quando o avião começou a fazer uma curva e a tal da setinha passou a rodopiar sobre o seu próprio eixo que compreendi: a seta apontava para meca - sempre!
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meca fica a leste, mesmo lado do nascer do sol. os muçulmanos já nascem com um gps religioso e sabem de cor onde nasce o astro. mas dentro de prédios fechados, como hotéis, por exemplo, o gps fica meio desorientado. s.o.s vem em forma de uma setinha, geralmente no teto, indicando o leste. o kit é completo com um tapetinho, o corão e uma pedrinha que simboliza o ato de higienizar o corpo.
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na hora da reza, o canto de chamado, quase um lamento, bonito e bom de ouvir, vem das mesquitas. e como são várias em teerã, o canto vem de todos os lados. e é então que eu me situava geografica e culturalmente naquela cidade: estava em terras muçulmanas! sem falar no fato de que a toda hora falavam comigo em farsi, achando que eu era iraniana...
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